Astroteologia: breve introdução
Nós, humanos, somos seres limitados. Criativos e inovadores, conseguimos
ampliar em muito a nossa compreensão do mundo por meio da aplicação
diligente da razão e, complementarmente, das artes.
Isso porque, se a ciência e as artes têm algo em comum, é justamente a
tentativa de estender nossa visão de mundo, de ampliar as fronteiras do
conhecimento, revelando aspectos inusitados do real. Um teorema e um
poema são reflexões do possível, seja o concreto ou o onírico. A
imaginação lança mão de todos os recursos à sua disposição para dar
sentido à existência.
Talvez seja por isso que o teólogo americano Reinhold Niebuhr escreveu
que "o homem é o seu maior problema". Nossas filosofias, ciências e
religiões são tentativas de compreender a existência apesar de nossa
miopia, isto é, de nossas limitações sobre o que vemos e entendemos.
Nessa busca, não é coincidência que a crença religiosa funcione como uma
bússola para tantas pessoas. Como explicar a origem do Universo? Ou da
vida? Ou por que temos uma mente capaz de refletir sobre essas questões
complexas?
Tais questões são, hoje, parte da pesquisa científica de ponta. Vivemos
numa época peculiar, em que o que antes era província exclusiva da
religião faz parte do discurso rotineiro da ciência. Porém, por não
termos ainda respostas, essas questões continuam nos assombrando.
Talvez um dos dilemas da humanidade seja a angústia de poder contemplar o
divino sem sê-lo. Temos a capacidade de imaginar a perfeição, a
ausência de dor, a imortalidade; mas, tirando a ficção e a fé, não temos
como transcender nossa realidade carnal, os limites temporais e
espaciais. Ou será que temos?
Considerando que a ciência moderna tem apenas quatro séculos (marcando
seu início com Kepler e Galileu), e percebendo o quanto já fizemos em
tão curto prazo, imagine o que nos espera em mil anos?
Ou 10 mil anos, se, claro, não nos destruirmos antes disso. A ciência
nos permite já uma manipulação dos genes de criaturas, a ponto de
podermos modificar o que comemos e mesmo alcançar curas diversas.
Extrapolando a expansão tecnológica para o futuro, alguns afirmam que,
em algumas décadas, chegaremos a um ponto em que nossa hibridização com
máquinas será tão profunda que não poderemos mais nos dissociar delas.
Caso essas previsões se concretizem -e, a meu ver, já estão ocorrendo-,
seremos, como escrevi aqui recentemente, uma nova espécie, além do
humano.
Agora imagine que, tal como nós, outras criaturas inteligentes em algum
canto da galáxia descobriram a ciência. Só que o fizeram, digamos, 1
milhão de anos antes de nós, o que em termos cósmicos não é nada.
Essas criaturas teriam se transformado completamente ao se hibridizar
com máquinas. Seriam, talvez, apenas informação, existindo em campos
energéticos no espaço.
Teriam o poder de criar vida, escolhendo suas propriedades. Poderiam,
por exemplo, ter nos criado, ou a alguns de nossos antepassados, como
parte de um experimento. Poderiam, por exemplo, estar nos observando,
como nós observamos animais no zoológico ou no laboratório. Essas
entidades imateriais, mas existentes, seriam nossos criadores. Seriam
eles deuses, mesmo se não sobrenaturais?
Comentário: A princípio cheguei a pensar que o homem estava sendo razoável, admitir a importância da fé para a humanidade, porém, não demorei a me decepcionar novamente. Segundo ele, tudo se explica com muitos milhares de anos, ou seja, não foi dado tempo suficiente à ciência para resolver os nossos problemas.
Parece que ele não está lembrado das previsões de 10 anos atrás sobre os melhoramentos que foram previstos pela ciência à vida. Só pra citar um exemplo, em 1990 se dizia que a medicina poderia prever doenças antes mesmo do nascimento de um bebê, com uma precisão capaz de evitá-las. Os surtos de Dengue e Gripe A fazem parte da realidade brasileira em pleno século XXI, cadê a solução da ciência?
Provavelmente Gleiser diria, o país não investe em pesquisa e gasta mal com saúde. Embora isso seja verdade, há importantes avanços no controle de doenças e diagnósticos mais precisos sendo feitos aqui mesmo no Brasil, como exames mais baratos e rápidos da AIDS, mas ainda estamos muito longe da sua erradicação. Novas doenças surgem e as velhas sofrem mutações, e mesmo que a ciência médica tenha evoluído consideravelmente, sobram desafios em todas as áreas do conhecimento humano. O que dizer sobre o genoma humano? Quanto mais descobrimos, mais informação aparece.
A velha máxima de que é necessário ter muito mais fé pra acreditar na evolução do que na criação, nunca foi tão verdade!
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